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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Clichés e clichés. Uma e outra vez.


Há menos de um ano escrevi um texto sobre um bolo de passas que nunca cheguei a publicar. Se calhar há cinco teria escrito um sobre fanta laranja e batatas fritas lays al plato.
Hoje escrevo sobre VW Polo e t-shirts largas. Hoje escrevo clichés.

Já me vitimizei de muita coisa, também já inverti papéis e pensei que se calhar não sou assim tão vítima como, ora sim, ora não, me pinto.

Nascemos com a certeza de que morremos, crescemos junto da família, numa rotatividade de amigos, uns que ficam outros que acompanham, conforme o nosso crescimento académico, profissional ou simplesmente ao sabor da maturidade, necessidade e felicidade.
Pelo meio, amores e desamores. Sufoco, incompreensão, dor, sentimentos de fim de mundo, lágrimas suficientes para encher uma qualquer barragem, traições, desilusão e acima de tudo, solidão.

Vivo nesta dicotomia de querer desesperadamente estar rodeada de pessoas que me fazem rir, que me fazem estar na minha pele; e de querer isolar-me para inutilmente chegar à conclusão que a existência é um nada absurdo e pesado.
Hoje, mais do que nunca, pergunto porque é que aqui estou. De que importa se preciso de ovos, de que importa ter que ir requisitar um pedaço de papel, de que importa ter aquele jantar que até nos pode animar?
Olho para as pessoas na rua e vejo um frenezim que não compreendo. Uma corrida que tenta acompanhar os ponteiros do relógio numa luta inglória.

Acordar é um suplício. É a realização de que aquilo que nos desespera, perdura. De aquele momento intímo passou de desejo presente a lembrança mutilante, pois é se nos negado. Acordar é o contorcer atroz do corpo de quem não quer enfrentar a luz lá de fora, mas que se assim não fôr, não há como continuar a caminhar até que a estrada chegue ao fim. Desistir também não é opção, e por isso caminha-se. Ou deambula-se. 

O que é que eu sou? Eu sou música. Deambulo na vida com palavras que outros pensaram e gravaram para partilhararem ao mundo, e a que juntaram sons e as cantam. Cantam essas palavras como se o mundo dependesse disso. O mundo talvez não, mas eu sim. E sigo, um passo de cada vez… Um olhar que perfura, a dança dos cabelos de um lado para o outro.
Podia reunir e colar excertos e excertos de canções que contam a minha história.
Afirmo constantemente que a música é a minha religião. Não considero os artistas deuses, considero-os humanos com abilidades maravilhosas, que me contagiam, viciam, ensinam. Aquilo que fazem, absorvo e faço disso meu. Talvez por isso viaje na minha mente, e danço e salto ao seu som, como se fosse uma aleanada e sonhadora (e se calhar, sou mesmo). A sonhadora dos sonhos sonhados, mas também dos vividos.

Na música procuro o sorriso, procuro a sabedoria que não tenho ou julgo não ter, procuro aquilo que descreve o momento que vivo, procuro também a palavra triste que ajuda o virar de página. Procuro-me. Uma e outra vez. Todos os dias. Para sempre.

E na música encontro o tal pacote de batatas fritas e a fanta que o meu pai me trouxe antes de partir. Na música quase que encontro a força com que os nós dos dedos do meu avô me apertavam de sempre que falávamos do Sporting. Na música encontro o bolo de passas que a tia Idalina sempre fazia. Na música encontro aquelas t-shirts a mais, que só a Ana, a tia que não é tia, queria e ainda veste até à exaustão. 

Os VW Polos, esses, são a memória agridoce daquilo que não foi, mas podia ter sido. Daquilo que desejei como nunca, e que por desejar tanto, tanto sofri em silêncio e em choros partilhados. Os VW Polos, lembram-me que aprendi a olhar para mim e que me ensinei a jogar esse jogo complexo e de dois laços a que chamam amor. E nos jogos, ganha-se e perde-se.
Não ganhei o jogo do VW Polo, mas aprendi a perder e, pelo caminho, aprendi quais as jogadas erradas. E, egocentricamente, sinto-me triste, pois pela primeira vez sinto que fui eu e fui só eu. Não fui eu extrapolada, de palavras a mais. Fui silêncio e distância quando tive que o ser. Fui sorriso, olhar, conforto e carinho. Fui ao mesmo compasso até onde os passos de um e de outro se perderam em ritmos diferentes. Fui verdade, sempre.
Ainda para mais eu e o WW Polo vivemos condicionantes. Umas inerentes e estabelecidas, outras que de nós não dependem. Nunca se disse que ficava com a chave na mão, mas também nunca se fecharam as negociações. 
Perdi o VW Polo, mas ganhei-me. Contudo, se hoje vir um VW Polo talvez solte alguns laivos de irritação e de mágoa.

E porque falo tanto no raio do VW Polo? Porque, por estranho que pareça, porque apesar do luto das batatas fritas, dos nós dos dedos, do bolo de passas, da t-shirt, que é demasiado pesado e perdura, a dor do WP Polo é muito mais acutilante e insuportável. Compreendo o serem dores diferentes, não compreendo a sua diferença de densidade. Compreendo ainda menos, se pensar que todas as minhas perdas aconteceram por doença, definhanço. Não compreendo porque é que isso faz adormecer as coisas que me fazem realmente feliz. Não compreendo porque é que me faz não querer caminhar. 
Nunca foi suposto o VW Polo preencher os meus vazios, os meus lutos, nem eu os dele. A ideia seria conduzirmos juntos até não se desejar mais. O meu desejo, acima de tudo, era ficar com ele, achando que o sentimento era o mesmo, e que o conforto que eu propus fosse ignorado e procurado pelo WP Polo em outrém, mesmo sem o compromisso de ter a chave dadas as condicionantes exteriores de ambos.

E porque é um texto de clichés, VW Polos há muitos. E por mais que eu desejasse ardentemente este, eu sei lá que papel é que a vida vai escrever para o meu personagem, e muito menos com quem vou contracenar. 
Por agora há que contracenar sozinha.

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