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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Conversa com o Nevoeiro

- Nevoeiro porque não te vais e me deixas falar com o céu?
- Por vezes eu tenho que intervir.
- Mas porquê?
- Porque eu trago o branco e o nada, e há quem precise que na cabeça não se passe nada mais que o nada.
- Mas eu não consigo fazer com que não se passa nada, que tudo seja branco. Por isso queria ver o céu.
- Porquê ver o céu quando podes ver todo o nada em mim?
- Porque o céu tem várias cores. Porque no céu há réstias de Verão e Inverno. Porque no céu se vê o infinito.
- Mas se nunca sentes o nada em ti, como consegues suportar todas essas inquietações, todas essas hipóteses que a tua cabeça formula a toda a hora?
- Não consigo, mas nem tu, nem o céu me vão dar respostas. Eventualmente eu encontrá-las-ei.
- Eventualmente...Mas fazia-te bem, por um segundo, deixares a tua mente cair no meu regaço e esquecer essa frustração, essa tristeza, essa culpa.
- Talvez, talvez. Mas o teu branco é incerto, é dúbio. Chega até a ser perigoso. Não sei o que pode acontecer no meio da tua brancura e do teu nada. E a culpa...A culpa é da minha fé nos outros.
- Pois, eu de facto não mostro tudo com clareza não. Não te preocupes, vou-me embora em breve.
- Obrigada.