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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sem título

Sem título.

Hoje a vida deu-me uma nova chapada. Estou em choque. Estou revoltada.

Acho que sempre encarei relativamente bem a morte do meu pai. Não me conformei, como é óbvio. A vida foi puta (não há outro nome), levou-o quando ele estava quase curado, embora ele tenha sempre dito que ia morrer cedo...

Ontem, depois de ver Glee, lembrei-me que a minha mente já não consegue encontrar a memória da voz dele...Consigo ver gestos, olhares, expressões, mas a voz perde-se com o passar do tempo. Acordo e tenho a notícia de que a mãe de um amigo meu, de quem eu gostava, partiu. E partiu sem aviso ou sinal.

O que me dói é que eu não estou no meu país para poder abraçar o meu amigo. Porque por mais que eu escreva, são só palavras. Eu sei que neste momento ele quer tudo menos palavras. Eu só precisei de estar um pouco sozinha, e de abraços. Os abraços são quentes, os abraços fazem-nos continuar, porque (cliché dos clichés) a vida continua. Destesto esta frase 'a vida continua'. Continua, mas nós temos que aprender a continua-la. A nossa perspectiva muda, a nossa sensibilidade também. Vemos a vida de uma outra maneira. Ás vezes tenho medo, muito medo. Outras não, outras acordo e vivo.

Eu achava que tinha aprendido a lidar com a morte, mas não. Enganei-me. Enganei-me porque sinto esta revolta, aquele nojo do acaso, de saber que não vou encontrar-me mais com essa pessoa ou com o meu pai. Porque consigo imaginar exactamente a sensação de vazio que vai na alma dele. Consigo imaginar o quão pesaroso deve estar a ser estar em casa.

Para ti só posso dizer: chora, chora muito. Depois pára, olha lá para fora e deambuleia. O tempo não cura, mas sara. A única certeza que vais ter é que a ferida poderá abrir de vez em quando. Mas passa. Agarra-te às pequenas memórias, aos pequenos gestos, aos momentos. Recorda isso com um sorriso, e não com uma lágrima, mesmo que por vezes não consigas evitar.
Gostaria muito de estar contigo, apesar de me sentir desiludida connosco nos últimos tempos. Gostaria de estar aí e ser um ombro.

O karma é foda mesmo. Mas depois da parte negativa, vem sempre a melhor parte.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Do piano para a guitarra

E porque o mês de Maio foi o mês das realizações musicais não poderia deixar de falar nesse jovem, nesse artista com 'a' capitalizado que é o John Clayton Mayer (sim, ele tem direito a nome do meio e tudo!).

Fui vê-lo ao Rock in Rio, pois era a primeira vez que tocava em Portugal, e tive a sorte de vê-lo em Londres (2 dias depois de Jamie Cullum e 6 depois dele actuar também em Lx) num recinto com uma acústica maravilhosa chamado Wembley Arena (não confundir com o estádio).

A minha jornada de John Mayer começou bem antes da de Jamie Cullum. Eu teria os meus 12 anos e tinha, numa das muitas estantes de álbuns da minha mãe, um chamado Room For Squares, que continha a faixa Your Body Is A Wonderland.
Lembro-me dumas férias em Cabanas de Tavira que, juntamente com este álbum, levava o Drops of Jupiter dos Train, porque numa noite quente de verão eram álbuns que eu achava que o meu pai gostaria de ouvir enquanto dormíamos ao relento.

Dois anos mais tarde, mostrei Daughters ao meu pai, ao que ele me disse uma coisa que eu ainda hoje tenho alguma dificuldade em perceber: "é música honesta". Honesta porquê? Seria a melodia? Seria a letra? Não sei, só sei que ainda hoje penso que é das músicas mais bonitas que alguma vez compôs, apesar de haver canções da sua autoria que são autênticos hinos à poesia e à eloquência.

Outra vez, não vou entrar em defesa dos meus gostos. Poderia dar mil e uma razões para explicar porque é que a música tando dele, como do Jamie, me levam ao paraíso das sensações. Poderia tentar explicar cada uma dessas sensações, mas é demasiado complexo.
De um modo geral a minha reacção é quase sempre a mesma quando os oiço tocar e cantar: fechar os olhos durante uns bons segundos e sorrir. Sorrir, não apenas com os lábios, mas também com os próprios olhos, com o pescoço, com as mãos, com as pernas e os pés. É a satisfação plena, é a abstracção total de que há um mundo lá fora, não existem relações ou preocupações, medos ou tristezas, apenas aquele momento. Aquele limbo. O meu cérebro não processa mais nada, o meu corpo está solto, livre para amar todos os sons, acordes, notas, palavras, estalar de dedos, bater de palmas e tudo mais.

John Mayer (e outra vez, à semelhança de Jamie Cullum) é um daqueles artistas que uma pessoa nunca pode formar uma opinião justa e coerente sem se ver actuar ao vivo. Por uma razão muito simples: são artistas que nasceram para actuar, que o acto de tocar e cantar é algo tão intrínseco nos seus seres como respirar; são artistas que tal como eu me perco na sua música, eles se perdem naquilo que estão a fazer.
É uma entrega tão genuína que se percebe com as expressões faciais que fazem. E aqui outra vez vêm os sorrisos. Ver o Jamie Cullum sentado ao piano e sorrir com uma reacção do público ou com uma nota que acabou de produzir é das coisas mais extraordinárias que já presenciei. Tal como ver o John Mayer entregar-se às suas guitarras e fazer coisas absolutamente surreais com elas. Tocar com uma mão pode parecer algo que outros também fazem, mas é o que ele toca: literalmente John Mayer consegue fazer com que uma guitarra cante e chore. No fundo, é a habilidade com que cada um deles manuseia os seus instrumentos (no caso do Jamie aquilo é mais que manusear, aquilo é pés, é ancas, é baquetas, é cadeiras, é tudo o que produza som) e o brilhantismo com que o fazem.
Em suma, são artistas que tiram o maior proveito das suas capacidades e que têm uma profunda e pura paixão e dedicação pela música.
Na minha opinião são os artistas que demonstram uma desenvoltura e uma naturalidade tão peculiar ao vivo que são os melhores. Os trabalhos de estúdio podem ser muito bons, mas a transposição para o palco às vezes perde muito. Neste caso não, ganham proporções gigantes de tão incrivelmente boas que são. Conheço-os de trás para a frente e de frente para trás e não há vez nenhuma, repito, vez nenhuma, que não fique incrédula ou que me emocione.

O meu pai ainda era vivo quando saiu o Continuum, mas penso que nunca chegou a ver as versões de Gravity, Vultures ou Bold As Love ao vivo. Julgo que se tivesse teria adorado, pois era grande fã de Jimmi Hendrix e Eric Clapton. Aliás, este álbum em particular ecoa a Eric Clapton, numa versão mais Pop obviamente, absolutamente inacreditável. Não é coincidência, uma vez que admiração do Clapton pelo Mayer é mais que pública. De cada vez que vejo Gravity de Where the Light Is tenho arrepios na espinha.

Em jeito de conclusão, estou-me a borrifar para o que é cada um deles diz ou faz nas horas vagas, desde que continuem a dar música, porque a deles, na minha mais sincera opinião, é genial e extraordinária.

Aqui fica uma cover de Free Fallin'